Hoje é um dia triste pra mim, embora não devesse ser...
Minha querida amiga virtual Angela Oiticica faleceu no dia 7/06/11 mas somente hoje fiquei sabendo.
Não deveria ser triste por tudo que já sei sobre a morte e porque sei que ela está muito bem, não morta, mas invisível a este mundo material...
Mas o egoísmo nos pega de jeito, hehe... a falta que sentirei de seu incentivo, de suas leituras e das leituras que eu empreendia em sua literatura tão característica. Viverei de saudade
Aqui uma música que sempre me lembrará dela e de sua energia que procurarei incorporar sempre que ouvir.
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Deixo aqui meu agradecimento a ti, Angela que me levou aos concursos dentro e fora da internet, que me levou ao mundo dos contos, onde tu trilhavas tão habilmente...Obrigada por tua luz!
O último conto seu que eu li, na comunidade Histórias e Contos de Terror:
O Bedel de Passos dos Ferreiros
Uma chuva de pétalas de rosas estilhaçadas cai e cobre meu corpo de gotículas de sangue. Ah! As fogueiras estão ardendo lá embaixo. As fogueiras me fazem tremer. Dirijo meu voo para longe da ardência das chamas e das pétalas das rosas. O xamã estremece sentindo minha presença. As labaredas lhe oferecem abrigo e elas alimentam seu corpo. Ele dança energicamente tentando me afastar. Saio de perto das chamas e me encaminho para a mata.
Meu cavalo alado me aguarda na escuridão cercado pelas sombras. Reconhece-me quando me aproximo ficando em pé nas patas traseiras e dá um relincho de boas vindas. Monto e parto em direção a uma antiga cidade não muito distante dali.
A noite continua morna e ao longe, o marco, chamado vulgarmente de Portão da Vila, um amontoado de pedras, que lembram um gigantesco pássaro, aguarda minha passagem. Estou quase chegando. A cidade vibra luzes elétricas; como está diferente agora. Não passava de um posto de trocas de cavalos dos tropeiros e viajantes. A maioria das casas era feitas de taipa e cobertas de sapê. Muitas coisas se desenrolaram desde então. Muitas vidas. Quando a cidade cresceu mais um pouco um tremor de terra soterrou a antiga igreja. Uma parte das casas, já de alvenaria e alguns dos velhos monumentos, como o antigo Passo dos Ferreiros, sumiu numa fenda aberta na terra. Reconstruída praticamente se iguala a capital, se não é, mais importante.
Continuo meu voo na noite. Agora estou chegando perto do meu objetivo. Voo mais baixo e deixo o cavalo preso, numa das árvores do pequeno bosque, em frente a uma rua de casas de talhe elegante, dois andares, ajardinadas e cheias de luz. Na primeira casa, uma criança e sua governanta olham a rua numa janela de segundo andar. A criança me vê e chora, aponta algo que a governanta não vê e é levada para dentro do que presumo ser seu quarto.
Uma chuva de pétalas de rosas estilhaçadas cai e cobre meu corpo de gotículas de sangue. Ah! As fogueiras estão ardendo lá embaixo. As fogueiras me fazem tremer. Dirijo meu voo para longe da ardência das chamas e das pétalas das rosas. O xamã estremece sentindo minha presença. As labaredas lhe oferecem abrigo e elas alimentam seu corpo. Ele dança energicamente tentando me afastar. Saio de perto das chamas e me encaminho para a mata.
Meu cavalo alado me aguarda na escuridão cercado pelas sombras. Reconhece-me quando me aproximo ficando em pé nas patas traseiras e dá um relincho de boas vindas. Monto e parto em direção a uma antiga cidade não muito distante dali.
A noite continua morna e ao longe, o marco, chamado vulgarmente de Portão da Vila, um amontoado de pedras, que lembram um gigantesco pássaro, aguarda minha passagem. Estou quase chegando. A cidade vibra luzes elétricas; como está diferente agora. Não passava de um posto de trocas de cavalos dos tropeiros e viajantes. A maioria das casas era feitas de taipa e cobertas de sapê. Muitas coisas se desenrolaram desde então. Muitas vidas. Quando a cidade cresceu mais um pouco um tremor de terra soterrou a antiga igreja. Uma parte das casas, já de alvenaria e alguns dos velhos monumentos, como o antigo Passo dos Ferreiros, sumiu numa fenda aberta na terra. Reconstruída praticamente se iguala a capital, se não é, mais importante.
Continuo meu voo na noite. Agora estou chegando perto do meu objetivo. Voo mais baixo e deixo o cavalo preso, numa das árvores do pequeno bosque, em frente a uma rua de casas de talhe elegante, dois andares, ajardinadas e cheias de luz. Na primeira casa, uma criança e sua governanta olham a rua numa janela de segundo andar. A criança me vê e chora, aponta algo que a governanta não vê e é levada para dentro do que presumo ser seu quarto.
Voltam a se abraçar, quando ele diz a ela baixinho, que irá buscar algo para beberem na cozinha. Ele sai e ela se senta no sofá, ligando um abajur. O homem volta sorridente, está na entrada da sala e vem com duas taças nas mãos. É neste momento que decido invadir o corpo dela, algo muda em sua expressão e o homem em frente também sente a mudança. Agora, ela é minha inteiramente, eu no corpo dela pego uma das taças, enquanto o homem olha inquisitorialmente e tenta abraçá-la. Num segundo quebro a taça e enfio o vidro afiado no coração do homem, ele estremece e eu me afasto, saindo do corpo da mulher que se contorce. Por um instante ela olha intrigada a taça quebrada em sua mão ensanguentada e o corpo ainda morno do homem. Cai em gargalhadas, ainda possuída pela minha presença e vai até a cozinha de onde traz uma faca, abre o tórax do homem e retira o coração. Dança agarrada ao coração uma dança debochada. Meu corpo agora assimila a sombra do corpo do homem, já tenho sombra, começo a me regenerar, sorrio satisfeito.
A mulher volta a ser ela mesma e me vê, solta então um grito que faz acender as luzes do quarteirão. Quando saio vejo carros chegando com luzes azuis e vermelhas. Daí a umas ruas há uma casa, onde filha e mãe jogam xadrez. A mãe me vê, acende uma vela fazendo uma prece.
Aonde há fogo não me aproximo, coisa rara no meio das luzes elétricas, além do mais em breve meu corpo se reconstituirá e serei eu mesmo de novo, o antigo Bedel de Passos dos Ferreiros.
Fim
Angela Nadjaberg Ceschim Oiticica
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Um comentário:
Linda homenagem. Angela merece. Parabéns.
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