sexta-feira, 2 de abril de 2010

GIANNI RODARI



GIANNI RODARI

Rodari, escritor que sofreu certo reducionismo no âmbito escolar por ser estudado apenas pelos seus textos de cunho pedagógico, assinala a fome como uma das grandes tragédias do século XX - fome tanto do corpo como da alma.

O escritor afirma que ambos (corpo e alma) precisam ser nutridos - talvez por isso seus textos reflitam essa profunda ligação com o alimento. Rodari envolve o leitor no saboroso mundo da leitura por intermédio de uma escrita lúdica e surreal.
Prosa e verso unem-se aos textos críticos e contribuem para tornar o ato da leitura uma degustação, nos termos do escritor, fantástica.

O livro Fábulas por telefone, com uma edição brasileira em 2006,
apresenta histórias curtas porque são contadas por um caixeiro viajante, pelo telefone, à sua filha antes de dormir.

No livro temos a ocorrência de uma mansão de sorvete, uma cozinha espacial, os homens de manteiga, a febre comilóide, a senhora Apolônia de geléia, a rua de chocolate, a história do reino da comilança, o caramelo instrutivo.

No conto “Os homens de manteiga”, Rodari conta a história de um grande viajante que explorou um país no qual todos os homens eram de manteiga:
“esses homens derretiam ao se expor ao sol, eram obrigados a viver sempre na sombra, e moravam numa cidade em que, no lugar de casa, havia um monte de geladeiras”.

Em “A mansão de sorvete”, o teto era de chantili, a fumaça das chaminés de algodão-doce, as portas, as paredes e os móveis de sorvete:
“Um menino bem pequenininho agarrou-se aos pés de uma mesa e lambeu um de cada vez, até que a mesa caiu em cima dele com todos os pratos.”

Gianni Rodari, escritor italiano, discute sobre o jogo que se põe à mesa na hora das refeições e os personagens criados pelos pais - o que dá ao ato de comer um significado simbólico: “comer torna-se um ato estético”.

Com os capítulos “Comer e brincar de comer” e “Histórias à mesa” do livro Gramática da Fantasia (1985), Rodari sugere o híbrido de fábulas que podem ser criadas à mesa, como a Madame colher e suas aventuras românticas com um garfo e sua terrível rival, a faca:

Nessa nova situação a fábula se duplica: de um lado sugere ou provoca os movimentos reais da colher-objeto; de outro, cria a ‘madame colher’ na qual o objeto é reduzido a um outro nome, apenas com uma virtude evocadora:
Madame Colher era bem alta e muito magra, e tinha uma cabeça tão grande e tão pesada que não parava em pé, ela achava mais cômodo andar de ponta–cabeça. Assim via todo mundo ao contrário e só tinha idéias do avesso...

em 1973 completa a sua Gramática da Fantasia, onde investiga as
constantes dos mecanismos fantásticos, das leis da invenção, de modo a tornar
o seu uso acessível a todos, «não para que sejam todos artistas, mas para que
ninguém seja escravo», sob o lema de belo tom democrático:
«Todos os usos da palavra a todos».

Este livro já reflecte a experiência da sua actividade junto das
escolas elementares com as crianças, desenvolvendo o que hoje se denomina
por ateliers de escrita criativa

ENFIM, ESSE CARA É O MÁXIMO!

DO LIVRO DOS PORQUÊS:

Piratas

Os velhos piratas
com seus tapa-olhos
de gancho na mão
mais medo não dão

Só fazem figura
nos livros de aventura
com sua perna-de-pau
carcomida

Esperam a hora de abordar
só se você mandar
esperam que você
seja seu comandante

Os piratas de outrora
alinhados na estante
como na ponte de um navio

Vá logo, sem demora
abra o livro da fantasia
esperam o seu sinal
os heróis da pirataria

Gianni Rodari





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